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terça-feira, 18 de novembro de 2008

Sorry

Meu mundo estava de cabeça pra baixo, faltavam palavras. Agora ele se reformou e eu apareci por um outro momento.

Ré pra frente

A vida me disse "sim"
O amor me disse "olá"
A amizade me disse "sempre"
As novidades me disseram "aqui"

E eu sorri,
Eu sofri,
Eu suei.

O suor me valeu a pena,
Mas ainda sobram gotas
Aposto que elas reaparecerão,
Que elas se reproduzem
Quando a gente diz que acabou a placa de início se refaz

Pedras quebradas se reunem
Cacos se recompõem em obras de arte
Amores se confundem no ato intermediário
Brigas se formam antes dos fins
E nos inícios coexistem vazios e cheios

E no ato final se percebe
Nunca se perde
Apenas se percebe o que não era seu
Se percebe o que não te merecia
E os detalhes se tornam importantes
Se ganha, mas não se perde

Ato final,
Fim,
Início,
Aqui,
Ontem,
Sempre,

Até mais

Flora S.


domingo, 5 de outubro de 2008

Viva la vida and death and all his friends


E os momentos mais felizes parecem perpetuar.
Cheios de contrastes com os choros.
Dias mais felizes terminados em reclamações.
Dias mais tristes terminados em risos.

A falta nem é mais grande,
As realizações preenchem livros inteiros.
Mundos inteiros renovados.
Momentos perdidos são supridos pelas conquistas.

Novidades,
Felicidades,
Tristezas,
Estresse,
Tudo.

Ainda em construção.

Flora S. (Coldplay na cabeça)

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Romeu e Julieta XY


-Sério, como podemos nós dois nos compararmos a uma estrela? Não conseguimos nem vê-las no lugar certo...
-Tudo culpa da refração.
-Se a ciência explica tão bem, pra que a fé? Pra que sonhar? Vamos constatar fatos...
-Então deixemos de viver... A ciência é bem mais que comprovar, afirmar, ela envolve o mundo e deixa espaço para o credo, para o pensamento.
-Não me tornei cientista para isso. Quero confirmar tudo e não criar hipóteses infundadas.
-Então o brilho do luar e a mudança de olhos se tornaram hipóteses?
-Sim sim.
-E você me disse que me amava, onde está então a parcela de você que acredita no amor?
-Aqui, olhando para você.
-Apenas olhando, sem se expressar, sem acreditar, sem ser.
-Eu sou, sou esse amontoado de poeira cósmica.
-Um amontoado de poeira com emoções, com amores e sensações. Um amontoado de carbono e hidrogênio, com um pouco de molibdênio. Realmente, você poderia ser mais que uma poeira em baixo de um tapete. Levante-se, saia de seu esconderijo e descubra se o seu amor é constatável ou hipóteses.
-Eu vivo sobre constantes...
-Então eu sou uma hipótese...

E os dois se separaram, os dois se perderam na distância. E cada um teve sua esposa, esposas compatíveis com si próprios. Eles quase se tornaram amantes. Mas um achou que tudo seria imaginação, outro queria provas reais. Nenhum dos dois conseguiu nada. E a solidão nem foi tão solitária, eram companhias intrínsecas.

Flora S. (recordando o meu dia)

domingo, 31 de agosto de 2008

Amontoado


E hoje o mundo se tornou pequeno, eu me tornei maior e as palavras se uniram em uma única sentença universal. Se eu escrever em outra língua, perdoe-me, mas o diário de bordô se tornou um amontado de mundos. Meu mundo é cheio de outros, ele fala alemão, escuta espanhol e entende francês. Ele tenta escrever em japonês e comer comida chinesa. Meu mundo sorri em inglês e abraça como o schweizer-deutsch. Que mundo pequeno.
É tão pouco espaço que nem se sabe o que fazer com tanta coisa, elas não cabem ordenadamente. Logo serei como íons reduzidos sobre a placa oxidada, negros por causa da velocidade com que tentaram se amontoar. É e eu posso muito bem ter disputado corrida com vários outros íons para chegar primeiro. Acho que minha vida sempre foi uma grande correria, fui um bom espermatozóide, soube ganhar na natação, soube correr no polícia e ladrão... Até pra se escrever uma redação temos de ser rápidos.
Claro que os textos são dissertativos, "nunca se dirija ao leitor". Sinceramente, acho isso uma bobagem. O leitor está ali, com meu texto nas mãos, ou na tela, e não posso falar um oi? Oi, leitor!!!! Espero que tenha entendido pelo menos uma oração daqui. Não tente confirmar a validade da regência verbal, ou o número de figuras de linguagem. Afinal, a sabedoria vem sem que tenhamos de forçá-la, é só abrir as portas.
Ich mag nicht diese post, aber ich schreiber es für mich, nicht für dich. Gracías por todo, por me leer y por ofrecer más de pocos minutos para . Não sei se mereci, mas agradeço mesmo assim. Yes, this text is just a mix of words and worlds.

Flora S. (e um pouco mais dos outros)


segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Adotando dias


Pensando em fuwas descobri a adoção universal, na verdade criei-a. Imaginem um cachorrinho de olhos acinzentados e pêlo claro abandonado na chuva fria. Imaginem a flor mais bela da primavera. Imaginem o sol em seu dia mais amarelo e em seu momento mais alaranjado. Imaginem a pedra mais colorida e mais brilhante. Imaginem a pedra renegada por sua simplicidade. Imaginem o arco-íris na mangueira. Imaginem o sorriso mais encantador. O verão mais gostoso. O dia mais longo. A noite mais longa. A lua mais amarelada. A estrela de maior brilho. O gato de patas sujas e olhos felizes em meio a calçada suja. O homem que quer ser chamado de pai. A mulher que deseja sentir a maternidade ao escutar a palavra "mãe".
Todas essas coisas me induzem a adotá-las... Quero a pedra mais bonita e a mais feia. O pai adotado, a mãe por anexo, o irmão de amizade sólida (se bem que já tenho alguns que valem a pena), o cachorro abandonado, o gato feliz, a criança solitária, o sol e a lua, a noite e o dia, o sorriso 'encantante', o verão e o inverno gelado, o arco-íris e tudo o mais que prende o meu olhar por mais do que dois segundos. Filmes e livros já foram adotados, músicas foram reservadas como minhas. Olhares foram capturados. Dias foram filmados.
Meu cérebro capta os momentos felizes e tristes em seus locais, adotando lembranças como minhas. Adotando filhotes e adeuses. Realmente, tenho de parar de olhar pra tudo ou o meu coração vai estar cheio demais, ou demenos. Afinal, até mesmo os fuwas eu quero. Selecionar também é bom, mas se posso ter tudo mesmo que em registros fugazes, porque me privar as coisas possíveis de se adotar?

Flora S. (oiá eu aqui, mamãe)

sábado, 2 de agosto de 2008

Anúncio

Bom, eu fiz esses dois desenhos e fiquei com muita vontade de colocá-los aqui.


Hoje eu fiquei feliz sem motivos.
Hoje eu me preparei para te ver.
Não, você não me avisou de sua vinda.
Mas o meu coração já o sabia.
Meu coração está sempre sendo avisado de tudo o que você faz.
Portanto: cuidado, eu estou te amando.

Flora S.

terça-feira, 29 de julho de 2008

Ser o que é


Ele se perdeu em meio a tantos desafios. Ele pediu mais do que podia. Ele ganhou menos do que merecia. E ele ainda estava vivo, cheio de amores no coração, cheio de histórias para contar. Ele conta histórias para os mais jovens, na vã esperança de que não tenha de presenciar novamente o que aconteceu a si próprio. Mas todos cometem erros, mesmo quando avisados e não foram poucos que os repetiram.
Ele sonha ainda com o amor que conheceu na infância, que reencontrou na juventude, que perdeu quando adulto. Ele sofreu muito mais do que fala pra todos, do que se permite dizer. É, ele ainda tem os melhores amigos, alguns já morreram, mas os essenciais se mantém ao seu lado, independente do plano físico ou do espiritual. E o seu nome nunca será esquecido, Fernando. E ele se mantinha imóvel diante das crianças contando o dia em que conheceu Catarina.
Fora em um dia chuvoso que ele a viu pela primeira vez. Ela chorava debaixo da chuva, como se esperasse que cada pingo disfarçasse as lágrimas. Mas Fernando sentiu a tristeza da menina dentro de seu coração. A ligação começou lá. Ele perdeu o raciocínio mas ajudou a menina assim mesmo. Ela estava perdida porque seguira um garoto com quem queria brincar, mas ele a ignorou e mandou ela voltar pra casa (chamou-a de insuportável). Fernando levou Catarina até sua casa, depois foi embora e nem conseguiu dormir direito.
O reencontro foi muito tempo depois, ela estava em sua sala de escola. Eles conversavam sempre e a amizade foi estabelecida. Ela parecia não se lembrar dele, mas isso não importava, ela estava ao seu lado sempre. Infelizmente ela começou a namorar um outro menino, Tomás. E o amor que ela tinha por ele era enorme, tão grande que Fernando nunca teve coragem de se declarar. E quando ele o disse era tarde demais. Perdeu seu grande amor quando o fez, mas já era adulto e aprendeu a lidar com a dor.
Agora ele ensina aos mais novos a viver evitando a dor de não tentar. Porque a dor da perda é menor do que a dor do não falar, do não expressar, do não ser. Mas sabe de uma coisa? Os amigos o ajudaram tanto, mas tanto, que ele encontrou novos amores. Agora ele têm um outro grande amor, Filipa. O nome pode não ser o mais bonito, mas o amor que os dois têm entre si é tão bonito, ou mais, quanto o pôr-do-sol sobre as montanhas.
E tudo isso só foi possível após a declaração que o permitiu ser. Fernando se tornou o que era de verdade apenas por estar livre da carga. E foi então que seus amigos o acolheram e se aproximaram ainda mais, pois os amigos são aqueles com quem você pode ser você mesmo. E ele o é.

Flora S.

domingo, 13 de julho de 2008

Uou


Sabe aquele dia bonito?
Sabe aquele momento de felicidade incrível?
Sabe aquele poema de amor?
Sabe aquela história alegre?
Pois é, minha vida está assim.
Sabe aqueles que tentam estragar?
Sabe aqueles que tentam acabar com todo esse sentimento?
Eles estão sempre por perto.
Sabe a minha felicidade?
Continua aqui.

Flora S.

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Hoje


Foram-se os dias, as histórias e os momentos.
Foram-se as perguntas e suas respostas.
E o pecado mais importante, mais bem guardado e não dito.
O dia ficou feliz, o sol ficou mais forte.
Mas o pecado ainda está por dentro, corroendo o pensamento.
A criatividade é cortada pelo pensar direcionado.
E as podas são realizadas.
Nada, nunca, sempre.
Antíteses.
Um dia,
perguntas,
abraços,
olhares,
pensares.
Ah, que dia!
Que saudades do hoje passado.

Flora S.

domingo, 6 de julho de 2008

Hope, forever


Acredito que as críticas se cessaram
Para que voltem com mais forças
Para que possamos todos refletir antes de agir
Acredito nas mudanças, sejam onde forem

Que todos se mudem
Que os internos se alterem
Que os externos não tão valorizados
Que haja igualdade
Que o resto seja nosso
Que o nada seja mais que nada
Que tudo seja menos que tudo
Que ser seja mais que não ser
Que não ser seja forma de ser
Que tudo se misture
Que o resultado seja ouvido
Que as palavras ditas e não ditas se façam escutar pelos seus significados
Que os sorrisos se abram nos mais longos momentos
Que o que seja mais que é

Flora S. (alone these time)

domingo, 29 de junho de 2008

And so


Falta a criatividade.

Falta o lápis e a caneta.
Mas sobraram outras tantas coisas.
Adiós.

Flora S.

A partir de agora você é fã de snoopy

Lucca F.

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Beijinho Gostoso

E hoje, na frente da portaria do condomínio havia uma menina. Com seus dez anos inocentes ela vendia "beijinhos gostosos" por um real. E eu imaginei como seria frustante ficar todo um dia lá sem conseguir vender ao menos 3 reais, acho que isso até seria uma boa quantia para a idade dela. Um chocolate e alguns chicletes. Infelizmente, dessa vez eu não pedi a meu pai que parasse o carro. Eu não tinha um real, não tinha balas ou outras guloseimas. Não tinha disposição e nem queria um "beijinho gostoso" existem melhores beijos na vida, que não comprados. Além disso, minha disposição não era das melhores. Acabara de ver minha irmã e meu sobrinho.
Sério, um carro parou. Uma senhora com seu neto. Até que para o menino seria vantajoso, ele poderia contar para todos que recebera um beijo de uma menina linda e super simpática. Se é que simpatia conta hoje. Bom, eles pararam e eu imaginei que deveria ter parado também. Afinal, com dois reais seria um pacote de biscoito a mais. E o que custa um real e receber um beijo de uma menina quando se vê o olhar de felicidade e o som do agradecimento? Ah, eu não parei. Dessa vez não.
Flora S.

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Perfeito



Música perfeita.
Rádio perfeita.
Pessoas perfeitas.
Filme perfeito.
Cena perfeita.
Cantor perfeito.
Horas perfeitas.
Momentos perfeitos.
Bipolaridade perfeita.

É tanta perfeição, não podia vir sozinha.
E não veio, veio com presentes e tudo o mais.
Tanta coisa no meio, tanta coisa que desespera.
O medo vai sumindo, os desafios caindo.
Ah, como é bom ver que até o meu perfeito é imperfeito.
E se não fosse, eu o fazia ser.

Flora S. (as always)

sábado, 14 de junho de 2008

Nova abordagem


E eu perdi os olhos nos olhos.
Eu perdi aquela frase.
Eu perdi aquela dança.
Perdi a madrugada, a noite e o dia.
Perdi o mês
E a cabeça.

Eu perdi sem ao menos ter ganho.
Eu perdi o sol e a lua.
Perdi o cantar e o chorar.
Perdi.
Perdi as memórias felizes.
Perdi o futuro do passado.
Perdi, mas hei de ganhar.

Flora S.


Na foto: poucas pessoas conhecem, mas esse é o cantor Badly Drawn Boy, recomendo.

terça-feira, 10 de junho de 2008

Vermelhidão

Hoje um triste episódio de Flora entalada me lembrou de um outro episódio Flora em apuros... Mas o último ocorreu uns dez meses atrás e conta com uma privada, um bastão e uma mãe hospedeira. Claro que o acampamento no fim de semana seguinte explicou o porquê, mas o constrangimento foi único.
Imaginem alguém que entope uma privada e fica presa em uma casinha de crianças, bom, essa sou eu. Agora imaginem essa pessoa apresentar um pele naturalmente rosada (ou avermelhada segundo alguns) e ficar ainda mais vermelha... Engraçado, agora, pois nos momentos é algo bem constrangedor. Eu me lembro de um conto sobre os ingleses e logo deixo de sentir tamanha vergonha, Campos de Carvalho me consola em momentos de rubor. E digo mais, acho que estou melhorando.
Tudo bem, hoje saí com um braço e um queixo machucados. Claro que no primeiro episódio eu saí ilesa (fisicamente falando). Mas tirando o lado físico o psicológico não foi tão sufocante. Talvez por que o grau de gravidade seja outro e estava entre amigos, amigos loucos, mas amigos. Não tinha muito sobre o que falar hoje, então segue o texto de Campos de Carvalho que me consola.

Flora S.

A PONTUALIDADE BRITÂNICA É UMA PILHÉRIA

Campos de Carvalho

Meu caro.
O selo inglês é só passar a língua nele e logo gruda. Aliás, a única coisa que funciona mal aqui em Londres, pelo que vi, são os relógios públicos: cada um marca uma hora diferente, e tem até os que não marcam hora nenhuma. A proverbial pontualidade britânica é uma pilhéria: ou então cada um é pontual, mas dentro do seu próprio horário, e todos os horários são válidos. Meu pobre relógio brasileiro já ficou maluco.
O londrino, tirante os teenagers, que não tem graça nenhuma, é em geral engraçadíssimo. Apieda-se pelo fato de você não ter agasalho próprio para o frio glacial que está fazendo. Perto dos franceses, são educadíssimos (o que não é nenhuma vantagem), mas também ignoram a sua existência, a menos que você se ponha a gritar no meio da rua Help! Help! – o que estou sempre fazendo. As mulheres são bonitas, surpreendentemente bonitas, mas todas iguais; já os homens não me agradam, e espero que eu lhes agrade ainda muito menos. Até os cachorros fumam cachimbo e trazem o olhar perdido no horizonte; educadíssimos: ainda não vi um cachorro sequer olhando para um poste.
Londres, pode escrever, é a cidade mais limpa do mundo: até os lixeiros aqui são impecavelmente limpos. Se você joga um pedaço de papel na rua, logo vem o guarda e o admoesta num perfeito inglês de Oxford; depois vêm os repórteres de tudo quanto é jornal e da televisão para entrevistá-lo e saber a que tribo selvagem você pertence; e depois finalmente vem o exército da salvação e se põe a entoar cânticos pela redenção de sua alma. Antes de sair de casa já cuspo 20 vezes seguida por medida de precaução – e se me acontece ficar com um pedaço de papel na mão em plena rua, entro simplesmente na primeira agência do correio e despacho-o para uma das ilhas Malvinas, com o selo da rainha e tudo. As casas, aqui, de tão limpas parecem até feitas de porcelana: não sei se o mesmo acontecerá no sonho ou nos bairros ainda mais pobres: suponho que não. A verdade é que não existe a menor relação entre o mendigo londrino e um mendigo digamos do Rio de Janeiro; o mendigo aí londrino passaria por lorde e seria recebido com um five o’ clock tea pela academia brasileira de letras: muito mais justo, aliás, do que muitos outros chás de que já tenho ouvido falar.
Comprar cigarros em Londres é um drama: você tem que ir à Escócia. Tem casa de tudo aqui perto do meu hotel, até de incenso indiano ou de figas da Guiné: só não tem tabacaria. Parece que o puritanismo inglês se fixou todo no combate ao fumo e ao tabagismo, e até já me explicaram algo parecido com isso; os poucos cigarros que lhe vendem são todos fraquíssimos e é preciso você fumar o maço inteiro, inclusive o próprio maço, para ter a leve sensação de que algum dia alguém passou fumando por você. O que salvam os mendigos londrinos são os turistas, sobretudo norte-americanos, que sempre jogam disfarçadamente uma guimba ou outra no meio-fio, longe dos olhares inquisidores e cobiçosos do guarda na esquina. Dizem que o fog londrino desapareceu de uns tempos pra cá, por motivos meteorológicos e outros que ninguém sabe ainda explicar: a verdade verdadeira é que o que desapareceu mesmo foi a fumaça dos cigarros e dos charutos, a minha inclusive, para total desespero dos cancerologistas ingleses do pulmão.
O londrino tem em média dois metros de altura, do que resultam sérios problemas para quem, como eu, tem pouco mais da metade: isto porque as coisas aqui foram feitas para ele e não para mim, evidentemente. Assim por exemplo, para apertar o botão do elevador tenho que me colocar na ponta dos pés e depois de alguns minutos pedir o auxílio de alguém por perto, alegando naturalmente que pertenço à troupe de anões do circo. Os mictórios públicos batem exatamente na altura do meu queixo e assim acabo urinando é mesmo no chão, onde pelo visto já andaram urinando antes de mim outros brasileiros, ou pelo menos algum cearense. Uma mulher londrina dá para dois homens brasileiros tranqüilamente e ainda sobra um pouquinho para o dia seguinte: mas nem por isso deixam de ser lindas, assim como é lindo o Everest. Agora é que eu compreendo por que o inglês (a inglesa) tem fama de ser uma criatura distante, quase inacessível.
O abraço do
Campos de Carvalho

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Garoto Luiz

Eu fui dormir pensando no que escreveria aqui hoje. Acordei pensando na mesma coisa. Bom, digamos que essa segunda eu recebi uma ligação ultra especial de um Luiz mais que feliz. Os créditos estavam sobrando, até aí não há nada de estranho. Ontem descubro que o (in)feliz faz aniversário no dia 02 de junho. Que dia mesmo? Na segunda!!!

Bom, o Luiz é uma anta que me liga no seu aniversário sem me avisar que é seu aniversário, sem lembretes no orkut, sem rastros de parabéns. E eu, eu fico morrendo de vergonha e jogo tudo em cima daquela poia brigando internamente com ele. Isso acontece. Bom, vou parar de reclamar e tentar escrever alguma coisa que preste sobre ele.
O Luiz é uma pessoa incrível, sempre com aquele jeitinho tímido e aquelas piadas baixas. Tocando violáo ele se empolga. Lendo um texto bom ele começa a sorrir. Ele assiste maravilhado as maravilhas do mundo e não ousa tocá-las, pode destruí-las sem querer. Mas ele sabe fazer, ele faz letras na UFOP, ele canta, ele grita, ele corre (meio forçado, mas corre, brincadeirinha), ele toca, ele faz os outros sentirem. E depois de ter um dia normal e agitado, um dia multilíngüe em que o francês é exercitado ele vem no MSN e dá um oi. Depois de um dia cansativo ele ainda tem forças de mostrar como ele é feliz com o que faz, com o que construiu. Ele tem trinta bizilhões de amigos internacionais. Ele conhece diversas línguas, ele conta casos, ele compartillha histórias.
É, Luiz, o que seria de nós sem você? Só pra constatar, você ainda é uma anta que não aivsa o seu aniversário para ninguém.
Segue mais sobre ele, mas eu tenho aula e ainda nem tomei banho, huhuhuhu.

Flora S.

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Cadeira com pipoca


Amanhã meu perfil muda. Meu about me será atualizado. Mas sendo o dia da mudança acho que por isso nem ao menos trocarei alguma informação. Nem posso acreditar que amanhã completarei 17 primaveras, 17 anos de Flora, 17 anos de mim. Os anos passam cada vez mais depressa.
Nesse ano eu ainda tenho de ler livros, de ouvir cantares, de cantar. Ano que vem a lista tem de ser maior. Vou parar de filosofar sobre o meu aniversário. Deixe-me pensar sobre o que falarei dessa vez. Ontem recebi uma mensagem no celular que aumentou as saudades nesse meu pobre coração, Luiz!!! Hoje falei no skype, encurtei as distâncias, Vanessa!!! Nossa que semana cheia de amigos.
Eu comecei a escrever sobre um cachorro (acho que estou pensando muito nos cães, devo escrever sobre outra coisa)
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Assisti um filme sobre o sorrir. Os atores gritavam sobre a chuva, os coadjuvantes passavam como se nada acontecesse. O mundo girava e girava e girava. Na tela as imperfeições são poucas, quase nulas. O rosto da multidão é colorido, a massa se junta formando uma grande roda estranha, mas bela. As improvisações ensaidas parecem tão espontâneas. As risadas criadas são tão divertidas. Tudo tão fascinante.
Durante todo o encanto da película a fascinação me tomou. Os sorrisos me fizeram sorrir. As tristezas me fizeram chorar. As piadas me alargaram a boca. Como foram belas as reconciliações. Uma vontade louca de dançar me tomou no momento da dança final.
Os créditos finais vieram. O filme acabou, aguardo a próxima sessão.

Flora S.

domingo, 18 de maio de 2008

Inutilidade


I wanted to say that I stay four hundred years without writing and then... I write...

Eu sei, estou inútil hoje, mas pensei: se o inútil nos ajuda a dar valor ao útil ele deixou de ser inútil. Eu então não sou inútil, sou útil. Considerando que eu seja útil, faço parte dos 5% da população mundial que fazem a diferença. Mas, segundo a Aninha, 93,7% das estatísticas são inventadas. O que torna impossível me manter nos cinco ou trinta por cento. Se eu não me encaixo em algo palpável me considero inútil... Se sou inútil sou útil.
Se sou tudo tão louco e "minha mente gira como um ventilador" eu juro que nunca estarei em um canto. Eu estou em tantos cantos, tantos giros, tantos lugares. Eu me perdi, não sei mais onde moro, onde estou. Eu corro, giro rápido. Eu sou assim, sempre fui. Sempre serei, uma inútil útil.

Flora S.

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Enlace


O aperto do coração, o aperto do abraço.
Cada simples gesto que embraça um universo.
O mundo mudou,
O se mudou,
O ser mudou.

E se o ser mudou menos do que pedia o mundo?
E se o se fosse abolido?
Se viver no se fosse bom o mundo seria hipótese.
Mas a hipótese ainda é construída.
A utopia se tornou filosofia.

Ouvi dizer que os jovens de hoje não são tão ativos quanto os do passado.
Discordo, as atitudes são outras, mas o sonhos existem.
Os que agem ainda existem.
O mundo ainda será melhor,
O se poderá ser real, os jovens serão reconhecidos.
E as angústias se resolverão, ou não.
Mas enquanto os jovens pensarem, ouvirem músicas, lerem livros o mundo será como deve ser, ou se tornará no que pode ser.

Afinal, a alma do mundo ainda é bem jovem.

Flora S.

domingo, 4 de maio de 2008

A-política

O mundo é totalmente puro das artimanhas políticas, mas totalmente sujeito aos quereres de alguns. O mundo é o mundo. Capitalista ou não. Não quero dividir a todos em segmentos, partidos ou ideologias. No final, a maioria segue uma única idéia. Não quero criticar os que seguem e os que se rebelam, quero apenas expor um simples ponto de vista possivelmente apolítico. Creio eu que todos se sujeitam aos seus desejos, mesmo que inconscientemente. Não, minto, apenas alguns. A maioria. Uns poucos percebem o que devem, o que podem e os outros.

Nha, pequeno parágrafo para expressar a sensação do dia. Façamos coisas boas para os outros.

Flora S.

sábado, 26 de abril de 2008

Sem borracha

Sinceramente, foi um mês cheio. Muitos acontecimentos, mudanças, ares. Mas o melhor de tudo foi como o pensar evoluiu. Ah, o blog ficou vazio. Tragédia.
Para hoje, something.


Sem borracha

Eu quero falar da beleza do ar, do amarelo do sol e do verde das flores. Quero falar da beleza dos sorrisos, sejam de gentes, de bichos ou de cores. Quero ouvir a ressonância do som mais belo. Quero falar do brilho que passa pela poeira vazia. Quero dizer do filme que vi ontem. Talvez cantar um pouco da música dessa manhã.
A lua me disse um "oi" ontem de noite. A rua me mostrou a mais nova melodia. A nuvem se desenhou da mais bela forma. O cão pulou em minha janela. A água respingou em meus cabelos. A comida de mais belas formas. A natureza de mais belo cheiro com as melhores idéias. Ainda gostaria de contar sobre o momento em que o sorriso mais me valeu, mas aí seria muito para um texto.
A beleza do mundo é maior do que a imaginada. Só que todos aprenderam na infância que o bom é depreciar. E os erros se tornam maiores do que são. Os acertos são ignorados em plena ignorância mundial. E o que era já não mais é. O que se foi não se pode mais ser. O que será deixa de preocupar.
Mas isso tudo, pois eu queria escrever uma coisa bonita. Isso está tão difícil ao ver o mundo.

Flora S.

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Eu vi


Andava calma, entre amigos. Mas o tempo parou. Foi um segundo quando eu vi aquilo. Percebi que todos iriam concordar comigo. Vi o sonho logo em frente. Vi que ele chegava lentamente. Apenas ele, mas eu havia parado de andar, meus amigos eram pessoas que não poderia jamais deixar para trás. Permaneci quieta. Em silêncio, admirando. Ele veio, me sorriu. Estava sozinho. Seu sorriso cor da lua, seus olhos cor do sol. E tudo para mim perdeu o porquê. Eu perdi razões, perdi palavras e pensares.
Ele ainda me olhou mais intensamente. Fiquei envergonhada. Ele conversava e o tempo parado. Eu, sempre eu, e ele. Dois em um mundo cujas tristezas já não mais existiam. Eu fingia sorrir, pois ao mesmo tempo tinha medo. Um medo tão bonito, tão próprio. Perdi a noção do tempo, mas que diferença faria? O mundo já não tinha mais tempo mesmo. O tempo já não tinha mais tempo para mim. Eu era muito para caber nos ínfimos segundos e nas poucas palavras. Me mantinha em silêncio, como podia eu chorar mais?
Como podia meu coração gritar tanto? Ele fugia de mim, não ELE, meu coração. Eu ainda tentava manter-me em meu lugar e tudo o que via era belo. As folhas que não se mexiam com o vento. O ar sem brisas, o sol que brilhava sem machucar. As abelhas de asas paradas, as flores que esperavam para poderem se movimentar.
O mundo parou, mas apenas para mim. Até que o aperto veio. O escuro se tornou real, ele parou de rir, ele olhou-me fundamente e disse:
-Durma.
E eu dormi, caí. Escutei o mundo novamente, todos gritavam. Eu dormia. Meus amigos se mantinham em desespero. E cada vez mais o mundo se tornava outro. Eu não vi. Não vi mais nada. Perdi o tudo. Mas outra luz virá, será?

Flora S.

terça-feira, 18 de março de 2008

Noch bitte


Eu tenho de agradecer ao meu novo irmão por assim me considerar.
Eu tenho de agradecer ao meu novo amigo por me elogiar.
Agradeço ao mundo por ser o que é.
Agradeço ao latido do cão, ao mugido da vaca.
Agradeço o cantar dos pássaros, o cantar dos homens.
Agradeço ao sol, às manhãs e aos luares.
Agradeço às aranhas e lagartas.

Agradeço o tudo, sem nunca me esquecer de que tudo e nada dão bem próximos.
Afinal, eu não poderia terminar um texto sem falar algo assim, poderia?

Flora S.

quarta-feira, 12 de março de 2008

Giz de cera

Pois é.
E não é.
Quando for, quando foi.
A cachorrinha foi salva.
Os dois homens sorriram muito.
A chuva parou.
O dia vermelho chegou.
O humor despencou.
A vida piorou.

Hoje, passou.

Flora S.

terça-feira, 4 de março de 2008

<3


Sobre vida e sobre amores.
Sobre escolhas e tentações.
Me perdi.
Nunca soube escolher.
Nunca soube ser.

Sem rimas e palavras bonitas,
Sem textos longos e conspiirações.
Sobre todos e tudo.

Eu me formei com o todo, e você?

Meu pai é Gaia e minha mãe, teoria.
Meus amigos, paixões,
minha vida, desperdício.

Não que o mundo seja triste e que o suicídio vale a pena.
Nunca teria coragem de medida tão extrema, sou mais um, mais um, mais.
Sou o um que completa a multidão.
Por que privá-la de mim?

Flora S. (ou não)

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Casa própria


O cachorro que vi na rua era preto. A porta era vermelha e ainda assim eu consegui distiguir as coisas. Mas a janela verde não combinava como resto. Não sei como, mas sei que devo pintá-la como o resto, num bege claro. Pois é, pintar. Eu tenho preguiça e não sei se conseguiria, mas devo tentar. Será que devo mesmo? Devo, sei que devo.
Mas a janela bege só fará sentido se o cachorro preto se postar ao seu lado. Quem sabe não o empalho? Não sei, seria cruel. Talvez fosse melhor apenas deixar as coisas como são, com medo de mudar. Também não.
Vou é arrumar outro lugar. Um em que as cores batam e cachorros não sejam empalhados. Um onde eu seja eu sem forçar a mim mesmo.
Eu.


Flora S.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Che e Fidel


Nunca utilizei esse blog para fazer política. Nunca discuti se sou de esquerda ou de direita. Mas devo avisar que hoje li a reportagem da Veja intitulada, Já vai tarde, escrita com o puro desejo de destruir a imagem de Fidel Castro. Admito que nunca me revoltei tanto. Admito que fico feliz por poder postar em um blog que não é imparcial em relação à isso, pois eu lia Veja, lia, de um passado bem enterrado. Eu pensei em levar a sério alguma coisa de lá, desisti ao ler o primeiro parágrafo do texto de Diogo Schelp.

Venho por meio desse blog pedir a todos que puderem, que não são muitos mas já são alguns que parem de ouvir a revista VEJA. Estamos em uma democracia e não podemos proibir que os jornalistas dessa revista de direita escrevam. Mas podemos ignorar, não escutar. Por favor, indignem-se.



As imagens foram retiradas do site
http://tudo-em-cima.blogspot.com

Visitem, virem pessoas críticas.

Flora S. (mais que nunca)

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Ich schon vermisse die Schweiz



Desculpe o tempo distante.
Não foi falta de tempo ou falta de idéias.
Digamos que o computador a internet resolveram mover-se em horários contrários aos meus.
Sem contar que últimos dias nesse país distante que se tornou uma casa aconchegante não ajudam a recordar-me a escrever.
Ah, belo frio, bela paisagem, belas montanhas.
E nada disso fala sobre Belo Horizonte, é tudo sobre a Suíça,
pois hoje, hoje sou suíça.
Pois é, o alemão suíço tão dialeto se tornou meta.
O alemão alemão se tornou desinteressante perto desses suíços.
O calor deixou de ser necessário.
O verde e amarelo ficaram mais bonitos na distância,
Mas a cruz branca está estampada em meu coração, fundo vermelho.
Ah, como posso dizer algo que se compare com o que sinto?
Não sinto nada explicável, apenas que o costume é super.
Que o Brasil será um estranho.
E que eu vou retornar a solos desconhecidos.
Solos brasileiros, solos sem neve ou gelo, sem flores dos alpes ou plantas prejudicadas pelo inverno.
Eu volto.
E isso é estranho.


Ich liebe die Schweiz, ich habe Angst. Ich muss tschüss sagen, es ist so schwierig. Ich werde diese Schwierigkeiten vermissen.

Flora S. (hoje Suíça)

sábado, 2 de fevereiro de 2008

Blog de um psicopata

Quinta-feira, 29 de fevereiro de 2009

Pedir perdão, nunca. Perdoar, ainda menos

Eu nunca peço desculpas. Eu não me lembro de já ter perdoado. Para que dizer "sinto muito, me desculpe"quando a pessoa que escutar responderá com um simples "sem problemas, eu te perdôo"? E essa resposta nunca é verdadeira. O ser humanos mente tão bem que até os mentirosos se perdoam. Mas eles não se perdoam racionalmente, apenas são irracionais de mais para perceber que perdoar é inútil, e pedir desculpas ainda mais. Mas não digo isso por odiar a humanidade. Eu não odeio ninguém. Por exemplo, tenho plena consciência de como sou bom e mereço ser amado. Mas nunca perdoado.
Nem mesmo Deus perdoa. Porque Deus não julga. Apenas os que julgam têm de perdoar. Mas ninguém tem o direito de julgar, portanto a ninguém é permitido o direito do perdão. Poder que nem mesmo Deus possui. Ou seja, eu faço a merda que eu quiser e não ligo nem um pouco para os comentários nem fofocas. Que falem de mim, eu não estou nem aí. Aliás, eu nunca estou aí. Estou sempre comigo mesmo e com meus pensamentos. Para que ouvir os outros quando penso melhor do que uma multidão? Para que me dar ao trabalho de reparar no que os outros fazem se sempre faço melhor?
E daí que eu me amo? Eu tenho todo o direito, afinal Narciso o fez. Eu sou tão humano quanto ele. Tão sujeito às falhas quanto ele. Mas não considero me amar um erro. Não dizem que o mundo precisa de mais amor? Aqui está ele, o dirijo para mim. Ninguém pode dizer que faço algo ruim. Afinal ninguém pode dizer nada. Todos deviam se fechar em seus pensamentos e nunca dizer o que pensam para os outros, apenas quando extremamente necessário.
Bom, meus pensamentos estão ótimos e condizem com a bosta de mundo em que vivemos. Por isso postei isso no meu blog. Não sou revoltado e não falo isso para ninguém, leia quem quizer. Eu sei que sou isso. Sei que vou assustar. Mas não vou pedir perdão.

Postado por psíquico às 23:47

Comentários:
Mundo: Desculpe-me se ainda não encontrou o amor. Mas não vou falar mais nada. Afinal, eu não te perdôo. Esqueça de mim, esqueça de todos. Só não se esqueça dos carros na avenida, atropelamentos são frequentes. Não se esqueça de que razões para viver nunca serão você.

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Dor psi-física


Ah... Dor que me consome vivo. Que me arranca os olhos e deixa lágrimas. Ah, a dor. Sempre tão presente. Eu sinto o sol deixar o céu, a lua não vem essa noite. Tudo escuro, o breu, o coração. Eu sinto a dor aumentar. A dor do amor não correspondido, do adeus não dito. A dor da morte do amigo, a dor da perda de uma amizade. A dor de ser e não querer ser, a dor de ser inseguro.
Tantas dores juntas que cada vez mais machucam. Corroem o meu interior aos poucos. Ninguém percebe. Ninguém nunca percebeu a dor que me maltrata.
Mas se eu bem tratado fosse eu ainda triste seria. Meu olhar caído continuaria o mesmo, é parte de mim. Mas ainda assim a dor persiste. Destruindo meu corpo, levando minha mente para longe de mim. Ela, que evito a todo custo, me persegue, me encontra, faz de mim o que sou. A tristeza de ser o que sou.
Não tenho mil olhos, nem me chamo Ostra, mas sofro como um personagem desenhado de Tim Burton. Não mato meu cachorro ou corro atrás de navios. Sou eu, eu e meu sofrimento contínuo. Sofro como nunca sofri, como apenas no cinema achei que se sofresse. Descobri que o olhar triste de antes deveria ter sido poupado para essa melancolia de agora. Mas já o usei o antes e agora não tenho como não o usar.
Eu sou triste, e daí?

Flora S. (inspirada por Tim Burton e Johnny Depp, ótima parceria)

Velha criança


O cachorro amarelo.
A casa cor de rosa.
O céu cor de orvalho.

Mamãe me ensinou a pintar.
Papai disse que era melhor criar.
Vovó falava das cores,
Resolvi juntar tudo.

Pena que criar cores seja tão difícil.
Pena que o orvalho deixe poucas impressões.
Mas mamãe me convenceu a usar a tinta.
Papai me ensinou a criação.
Meus avôs me contaram do colorido.

Consegui juntar isso tudo.
Mas apenas nos desenhos de segunda série.
Faz tempo que não pinto.

Flora S.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Caneta tinteiro


O céu estava azul.
O papel ainda em branco.
A tinta da caneta se recusava a sair.

Até hoje não entendo.
Acho que nunca entenderei tudo,
Se é que entendo alguma coisa.

Mas o que queria escrever era apenas uma história de amor.
Que se recusava a sair de mim.
Que se recusa ainda.

Flora S.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Fora da rotina

Eu escrevi um texto, um rascunho de texto. Falava sobre minha indiginação com as resoluções de ano novo. Não que as odeie, mas acho um pouco de estagnação essa idéia de mudanças apenas no início do ano, do mês, do dia... Creio que podemos mudar o que quisermos, quando quisermos.
Mas isso era o que falava o outro texto. O de hoje, que não é apenas um rascunho, fala de hoje, não do primeiro dia do ano. Sei que vocês devem estar se perguntando o que as resoluções têm de comum com esse dia. Bom, foi uma aula de inglês. Um texto, sobre as revoluções de ano novo. Irônico? Eu acho, mas não apenas isso. Esse mês de Janeiro sempre me irrita, talvez seja por causa das férias, em que não faço praticamente nada. Talvez sejam apenas as resoluções. Talvez seja a hipocrisia, que parece infestar esse mês. Ou ainda os inúmeros de namoros e flertes que não sobem a serra. Sim, hoje estou rebelde e com raiva do mundo.
Mas imagine um ano sem Janeiro. Seria sem praia, sem gente se mostrando. Não teríamos de nos preocupar em perder o ritmo, não teríamos pausas longas. Não teríamos de mudar os nosso dias. Não teríamos de aturar as visitas, os hóspedes. Não teríamos de viajar. E, principalmente, não teríamos de fingir um recomeço.



Está acompanhando o raciocínio? Eu já o perdi algum tempo atrás, pelo menos o lógico. Eu estou aqui rodando e reclamando de um início de ano. Um início de ano que pela primeira vez na minha vida não veio com o pacote acima incluído. E isso me fez perceber o quanto odeio Janeiro, o quanto o amo.
Sem férias, sem viagens (lado bom, lado ruim). Não teríamos tanta diversão. Sem relaxarmos, sem praia, sol e mar. Sem avião ou dez horas em um carro (não que os dois sejam perfeitos para muitos). Não conheceríamos novas pessoas. Não teríamos a possibilidade de fingir amar sem se preocupar como dia seguinte, poderíamos já estar de partida.
Afinal, o lado bom e o ruim outra vez. Para me deixar confusa e trazer um texto, quase verídico, nada verídico ou totalmente... Não o sei, eu sou apenas a autora. Nada mais.

Flora S. (apenas para constar)

sábado, 5 de janeiro de 2008

Verossímil


Me lembro ainda de um dia em que Adélia Prado deu uma palestra em minha escola. Foi uma conversa boa, não me lembro de muitas coisas. Me lembro de que ela era amiga de uma das coordenadoras. Me lembro de lermos o poema "A casa amarela", me lembro de algumas perguntas.
Mas tem uma que não sai de minha cabeça. Um menino perguntou se ela escrevia sobre ela mesma nos poemas. Sobre situações que ela vivenciou. A resposta dela foi simples: "Creio que todos os poetas escrevam sobre coisas que eles vivenciaram". Na época achei a resposta brilhante. Mas pensando bem agora creio que isso é válido para alguns. Alguns escritores.
Nem todo escritor tem o dom da criatividade. Nem todo escritor abandona seu mundo próprio ao escrever. Apenas porque Mark Haddon tinha em seu livro, "O estranho caso do cachorro morto", como protagonista um menino portador de Síndrome de Aspeger não significa que ele tenha. Não significa que ele realmente vivenciou as mesmas situações. Realmente acho que seria muito estranho ele ser encontrado cheio de sangue ao lado do cachorro morto da vizinha. Mas isso é completamente possível no contexto do livro.
A vida real, mera imitação das idéias de nossas cabeças. Ou seria o contrário? Aí é que está o ponto. Comecei esse texto tentando explicar a vocês, leitores, que nem tudo o que escrevo é verídico. Aí falariam que como nunca cito "esse é um caso verídico" subentendesse que o texto é ficção. Mas não é verdade. Muitos ainda acreditam que alguma verdade está ali. Não que os textos sejam mentira. Muitos são, outros são verdades que não precisam de afirmação. Os textos apenas existem.
Quando um autor escreve, não necessariamente ele sente o que escreve com relação à sua vida. Assim sendo, um narrador deprimido nem sempre reflete um escritor triste. Um texto é apenas um texto, não precisa de mais. Afinal, um texto já é muita coisa sozinho. Precisa dizer mais? Um poeta triste não significa um texto triste. Um narrador feliz não garante a felicidade do escritor. O texto e o autor são independentes. A única coisa da qual o texto necessita é do papel e do lápis. O resto vem depois.

Flora S. (como quase sempre, estou ficando muito egocêntrica)

terça-feira, 1 de janeiro de 2008

Olívia Rotina - Dia normal


Mais um dia normal, tão normal que até causa náuseas. Mas é isso o que será o meu dia. Eu sei, é sempre assim. Mesmo sendo o primeiro dia de minha nova fase, o dia em que a garota virou mulher, que a escola se tornou universidade. Mesmo assim é o meu dia comum. Mesmo assim é normal.
Vou para a primeira aula, a amostra das muitas outras que virão. O professor entra na sala. Silêncio. Ninguém conhece ninguém. Todos estão um pouco deslocados. Um raio de luz ilumina o rosto do professor. Percebo que ele é tão jovem que até poderia se passar por aluno. Meu primeiro professor é apenas um pouco mais velho que eu. Estranho, mas sei que me acostumarei, sempre me acostumo. E enquanto penso tudo isso ele começa a falar.
- Bom dia para todos. Não pedirei nomes, teremos tempo suficiente para nos conhecermos. apresentações não serão necessárias. Daqui em diante vocês serão muito mais do que já são. Ou tudo o que não são. A maioria das pessoas sentadas aqui estão tão mecanizadas que nem entenderão o que digo. Mas nós mudaremos esse fato. Nós mudaremos muita coisa a partir de agora. Não tenham medo. Ou melhor, tenham medo. Pois o medo é normal, o medo faz bem.
O silêncio na sala está mais silencioso do que antes... Como isso é possível? Existem diferentes tipo de silêncio? Ei! Eu devo pensar no que o professor está falando. Pela primeira vez alguém fala algo que me faz sentido. Pela primeira vez eu posso refletir sobre o que ouço e não o que penso. Pela primeira vez eu não sou a única.
- Deixe-me falar meu nome, não que isso faça muita diferença, - continuou o professor - José. Me chamo José, mas podem me chamar de Zé. Sim, meu nome é comum. Mas apenas meu nome. Não me confundam com o resto do mundo. Eu sou eu. Eu sou único.
Como ele consegue ser único se ele tem os mesmos pensamentos que eu? Deixei de ser eu? Tornei-me um Zé? Cadê a Olívia de sempre? Não, continuo sendo Olívia. Se fosse Zé estaria de pé, na frente dessa sala cheia de pessoas estranhas. De rastafaris e topetes. De esmaltes coloridos e sandálias da moda. Cheia de anéis, cheia de olhos atentos. De bocas abertas, de olhos fechados.
Recebo uma folha com um pequeno texto, no entanto é o texto que quero ler. É o texto que preciso ler agora. O texto é assim:
"Não posso revelar minhas fontes, mas elas me contaram coisas incríveis. Me disseram que a cor azul do céu é menos anil que o anil do mar. Me falaram dos pecados da humanidade. Me disseram da verdade universal. Pouco depois acrescentaram as coisas boas da vida. Falaram do amor e da amizade. Me ensinaram que os brilhos verdes no oceano são apenas pequenos seres. Mas eu me rebelei, eu criei minhas verdades. O meu anil é ainda mais anil que o do mar. Eu brilho mais que plânctons. Meus pecados nem Deus pode julgar."
A aula passa tão rápido, eu presto atenção. Tanta atenção que parece que nunca escutei outra pessoa antes. Mas não é essa a proposta de Zé? Descontruir tudo o que aprendi? Ou seria, aprendemos?

Flora S. (pena que não me chamo Zé)