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terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Dor psi-física


Ah... Dor que me consome vivo. Que me arranca os olhos e deixa lágrimas. Ah, a dor. Sempre tão presente. Eu sinto o sol deixar o céu, a lua não vem essa noite. Tudo escuro, o breu, o coração. Eu sinto a dor aumentar. A dor do amor não correspondido, do adeus não dito. A dor da morte do amigo, a dor da perda de uma amizade. A dor de ser e não querer ser, a dor de ser inseguro.
Tantas dores juntas que cada vez mais machucam. Corroem o meu interior aos poucos. Ninguém percebe. Ninguém nunca percebeu a dor que me maltrata.
Mas se eu bem tratado fosse eu ainda triste seria. Meu olhar caído continuaria o mesmo, é parte de mim. Mas ainda assim a dor persiste. Destruindo meu corpo, levando minha mente para longe de mim. Ela, que evito a todo custo, me persegue, me encontra, faz de mim o que sou. A tristeza de ser o que sou.
Não tenho mil olhos, nem me chamo Ostra, mas sofro como um personagem desenhado de Tim Burton. Não mato meu cachorro ou corro atrás de navios. Sou eu, eu e meu sofrimento contínuo. Sofro como nunca sofri, como apenas no cinema achei que se sofresse. Descobri que o olhar triste de antes deveria ter sido poupado para essa melancolia de agora. Mas já o usei o antes e agora não tenho como não o usar.
Eu sou triste, e daí?

Flora S. (inspirada por Tim Burton e Johnny Depp, ótima parceria)

Velha criança


O cachorro amarelo.
A casa cor de rosa.
O céu cor de orvalho.

Mamãe me ensinou a pintar.
Papai disse que era melhor criar.
Vovó falava das cores,
Resolvi juntar tudo.

Pena que criar cores seja tão difícil.
Pena que o orvalho deixe poucas impressões.
Mas mamãe me convenceu a usar a tinta.
Papai me ensinou a criação.
Meus avôs me contaram do colorido.

Consegui juntar isso tudo.
Mas apenas nos desenhos de segunda série.
Faz tempo que não pinto.

Flora S.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Caneta tinteiro


O céu estava azul.
O papel ainda em branco.
A tinta da caneta se recusava a sair.

Até hoje não entendo.
Acho que nunca entenderei tudo,
Se é que entendo alguma coisa.

Mas o que queria escrever era apenas uma história de amor.
Que se recusava a sair de mim.
Que se recusa ainda.

Flora S.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Fora da rotina

Eu escrevi um texto, um rascunho de texto. Falava sobre minha indiginação com as resoluções de ano novo. Não que as odeie, mas acho um pouco de estagnação essa idéia de mudanças apenas no início do ano, do mês, do dia... Creio que podemos mudar o que quisermos, quando quisermos.
Mas isso era o que falava o outro texto. O de hoje, que não é apenas um rascunho, fala de hoje, não do primeiro dia do ano. Sei que vocês devem estar se perguntando o que as resoluções têm de comum com esse dia. Bom, foi uma aula de inglês. Um texto, sobre as revoluções de ano novo. Irônico? Eu acho, mas não apenas isso. Esse mês de Janeiro sempre me irrita, talvez seja por causa das férias, em que não faço praticamente nada. Talvez sejam apenas as resoluções. Talvez seja a hipocrisia, que parece infestar esse mês. Ou ainda os inúmeros de namoros e flertes que não sobem a serra. Sim, hoje estou rebelde e com raiva do mundo.
Mas imagine um ano sem Janeiro. Seria sem praia, sem gente se mostrando. Não teríamos de nos preocupar em perder o ritmo, não teríamos pausas longas. Não teríamos de mudar os nosso dias. Não teríamos de aturar as visitas, os hóspedes. Não teríamos de viajar. E, principalmente, não teríamos de fingir um recomeço.



Está acompanhando o raciocínio? Eu já o perdi algum tempo atrás, pelo menos o lógico. Eu estou aqui rodando e reclamando de um início de ano. Um início de ano que pela primeira vez na minha vida não veio com o pacote acima incluído. E isso me fez perceber o quanto odeio Janeiro, o quanto o amo.
Sem férias, sem viagens (lado bom, lado ruim). Não teríamos tanta diversão. Sem relaxarmos, sem praia, sol e mar. Sem avião ou dez horas em um carro (não que os dois sejam perfeitos para muitos). Não conheceríamos novas pessoas. Não teríamos a possibilidade de fingir amar sem se preocupar como dia seguinte, poderíamos já estar de partida.
Afinal, o lado bom e o ruim outra vez. Para me deixar confusa e trazer um texto, quase verídico, nada verídico ou totalmente... Não o sei, eu sou apenas a autora. Nada mais.

Flora S. (apenas para constar)

sábado, 5 de janeiro de 2008

Verossímil


Me lembro ainda de um dia em que Adélia Prado deu uma palestra em minha escola. Foi uma conversa boa, não me lembro de muitas coisas. Me lembro de que ela era amiga de uma das coordenadoras. Me lembro de lermos o poema "A casa amarela", me lembro de algumas perguntas.
Mas tem uma que não sai de minha cabeça. Um menino perguntou se ela escrevia sobre ela mesma nos poemas. Sobre situações que ela vivenciou. A resposta dela foi simples: "Creio que todos os poetas escrevam sobre coisas que eles vivenciaram". Na época achei a resposta brilhante. Mas pensando bem agora creio que isso é válido para alguns. Alguns escritores.
Nem todo escritor tem o dom da criatividade. Nem todo escritor abandona seu mundo próprio ao escrever. Apenas porque Mark Haddon tinha em seu livro, "O estranho caso do cachorro morto", como protagonista um menino portador de Síndrome de Aspeger não significa que ele tenha. Não significa que ele realmente vivenciou as mesmas situações. Realmente acho que seria muito estranho ele ser encontrado cheio de sangue ao lado do cachorro morto da vizinha. Mas isso é completamente possível no contexto do livro.
A vida real, mera imitação das idéias de nossas cabeças. Ou seria o contrário? Aí é que está o ponto. Comecei esse texto tentando explicar a vocês, leitores, que nem tudo o que escrevo é verídico. Aí falariam que como nunca cito "esse é um caso verídico" subentendesse que o texto é ficção. Mas não é verdade. Muitos ainda acreditam que alguma verdade está ali. Não que os textos sejam mentira. Muitos são, outros são verdades que não precisam de afirmação. Os textos apenas existem.
Quando um autor escreve, não necessariamente ele sente o que escreve com relação à sua vida. Assim sendo, um narrador deprimido nem sempre reflete um escritor triste. Um texto é apenas um texto, não precisa de mais. Afinal, um texto já é muita coisa sozinho. Precisa dizer mais? Um poeta triste não significa um texto triste. Um narrador feliz não garante a felicidade do escritor. O texto e o autor são independentes. A única coisa da qual o texto necessita é do papel e do lápis. O resto vem depois.

Flora S. (como quase sempre, estou ficando muito egocêntrica)

terça-feira, 1 de janeiro de 2008

Olívia Rotina - Dia normal


Mais um dia normal, tão normal que até causa náuseas. Mas é isso o que será o meu dia. Eu sei, é sempre assim. Mesmo sendo o primeiro dia de minha nova fase, o dia em que a garota virou mulher, que a escola se tornou universidade. Mesmo assim é o meu dia comum. Mesmo assim é normal.
Vou para a primeira aula, a amostra das muitas outras que virão. O professor entra na sala. Silêncio. Ninguém conhece ninguém. Todos estão um pouco deslocados. Um raio de luz ilumina o rosto do professor. Percebo que ele é tão jovem que até poderia se passar por aluno. Meu primeiro professor é apenas um pouco mais velho que eu. Estranho, mas sei que me acostumarei, sempre me acostumo. E enquanto penso tudo isso ele começa a falar.
- Bom dia para todos. Não pedirei nomes, teremos tempo suficiente para nos conhecermos. apresentações não serão necessárias. Daqui em diante vocês serão muito mais do que já são. Ou tudo o que não são. A maioria das pessoas sentadas aqui estão tão mecanizadas que nem entenderão o que digo. Mas nós mudaremos esse fato. Nós mudaremos muita coisa a partir de agora. Não tenham medo. Ou melhor, tenham medo. Pois o medo é normal, o medo faz bem.
O silêncio na sala está mais silencioso do que antes... Como isso é possível? Existem diferentes tipo de silêncio? Ei! Eu devo pensar no que o professor está falando. Pela primeira vez alguém fala algo que me faz sentido. Pela primeira vez eu posso refletir sobre o que ouço e não o que penso. Pela primeira vez eu não sou a única.
- Deixe-me falar meu nome, não que isso faça muita diferença, - continuou o professor - José. Me chamo José, mas podem me chamar de Zé. Sim, meu nome é comum. Mas apenas meu nome. Não me confundam com o resto do mundo. Eu sou eu. Eu sou único.
Como ele consegue ser único se ele tem os mesmos pensamentos que eu? Deixei de ser eu? Tornei-me um Zé? Cadê a Olívia de sempre? Não, continuo sendo Olívia. Se fosse Zé estaria de pé, na frente dessa sala cheia de pessoas estranhas. De rastafaris e topetes. De esmaltes coloridos e sandálias da moda. Cheia de anéis, cheia de olhos atentos. De bocas abertas, de olhos fechados.
Recebo uma folha com um pequeno texto, no entanto é o texto que quero ler. É o texto que preciso ler agora. O texto é assim:
"Não posso revelar minhas fontes, mas elas me contaram coisas incríveis. Me disseram que a cor azul do céu é menos anil que o anil do mar. Me falaram dos pecados da humanidade. Me disseram da verdade universal. Pouco depois acrescentaram as coisas boas da vida. Falaram do amor e da amizade. Me ensinaram que os brilhos verdes no oceano são apenas pequenos seres. Mas eu me rebelei, eu criei minhas verdades. O meu anil é ainda mais anil que o do mar. Eu brilho mais que plânctons. Meus pecados nem Deus pode julgar."
A aula passa tão rápido, eu presto atenção. Tanta atenção que parece que nunca escutei outra pessoa antes. Mas não é essa a proposta de Zé? Descontruir tudo o que aprendi? Ou seria, aprendemos?

Flora S. (pena que não me chamo Zé)