Me lembro ainda de um dia em que Adélia Prado deu uma palestra em minha escola. Foi uma conversa boa, não me lembro de muitas coisas. Me lembro de que ela era amiga de uma das coordenadoras. Me lembro de lermos o poema "A casa amarela", me lembro de algumas perguntas.
Mas tem uma que não sai de minha cabeça. Um menino perguntou se ela escrevia sobre ela mesma nos poemas. Sobre situações que ela vivenciou. A resposta dela foi simples: "Creio que todos os poetas escrevam sobre coisas que eles vivenciaram". Na época achei a resposta brilhante. Mas pensando bem agora creio que isso é válido para alguns. Alguns escritores.
Nem todo escritor tem o dom da criatividade. Nem todo escritor abandona seu mundo próprio ao escrever. Apenas porque Mark Haddon tinha em seu livro, "O estranho caso do cachorro morto", como protagonista um menino portador de Síndrome de Aspeger não significa que ele tenha. Não significa que ele realmente vivenciou as mesmas situações. Realmente acho que seria muito estranho ele ser encontrado cheio de sangue ao lado do cachorro morto da vizinha. Mas isso é completamente possível no contexto do livro.
A vida real, mera imitação das idéias de nossas cabeças. Ou seria o contrário? Aí é que está o ponto. Comecei esse texto tentando explicar a vocês, leitores, que nem tudo o que escrevo é verídico. Aí falariam que como nunca cito "esse é um caso verídico" subentendesse que o texto é ficção. Mas não é verdade. Muitos ainda acreditam que alguma verdade está ali. Não que os textos sejam mentira. Muitos são, outros são verdades que não precisam de afirmação. Os textos apenas existem.
Quando um autor escreve, não necessariamente ele sente o que escreve com relação à sua vida. Assim sendo, um narrador deprimido nem sempre reflete um escritor triste. Um texto é apenas um texto, não precisa de mais. Afinal, um texto já é muita coisa sozinho. Precisa dizer mais? Um poeta triste não significa um texto triste. Um narrador feliz não garante a felicidade do escritor. O texto e o autor são independentes. A única coisa da qual o texto necessita é do papel e do lápis. O resto vem depois.
Flora S. (como quase sempre, estou ficando muito egocêntrica)
sábado, 5 de janeiro de 2008
Verossímil
Postado por Flora às 15:49
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2 comentários:
Interessante análise, Flora.
As fotos fizeram uma combinação fantástica com o texto..
Um texto que tem alma própria como qualquer outro...
Às vezes concordo com você,senão heterônimos reais seriam impossiveis, seriam muito fracos
whatever...escrevi sobre rituais
Se quiser aparecer
parabéns de novo
E vc nao é egocentrica
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