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terça-feira, 1 de janeiro de 2008

Olívia Rotina - Dia normal


Mais um dia normal, tão normal que até causa náuseas. Mas é isso o que será o meu dia. Eu sei, é sempre assim. Mesmo sendo o primeiro dia de minha nova fase, o dia em que a garota virou mulher, que a escola se tornou universidade. Mesmo assim é o meu dia comum. Mesmo assim é normal.
Vou para a primeira aula, a amostra das muitas outras que virão. O professor entra na sala. Silêncio. Ninguém conhece ninguém. Todos estão um pouco deslocados. Um raio de luz ilumina o rosto do professor. Percebo que ele é tão jovem que até poderia se passar por aluno. Meu primeiro professor é apenas um pouco mais velho que eu. Estranho, mas sei que me acostumarei, sempre me acostumo. E enquanto penso tudo isso ele começa a falar.
- Bom dia para todos. Não pedirei nomes, teremos tempo suficiente para nos conhecermos. apresentações não serão necessárias. Daqui em diante vocês serão muito mais do que já são. Ou tudo o que não são. A maioria das pessoas sentadas aqui estão tão mecanizadas que nem entenderão o que digo. Mas nós mudaremos esse fato. Nós mudaremos muita coisa a partir de agora. Não tenham medo. Ou melhor, tenham medo. Pois o medo é normal, o medo faz bem.
O silêncio na sala está mais silencioso do que antes... Como isso é possível? Existem diferentes tipo de silêncio? Ei! Eu devo pensar no que o professor está falando. Pela primeira vez alguém fala algo que me faz sentido. Pela primeira vez eu posso refletir sobre o que ouço e não o que penso. Pela primeira vez eu não sou a única.
- Deixe-me falar meu nome, não que isso faça muita diferença, - continuou o professor - José. Me chamo José, mas podem me chamar de Zé. Sim, meu nome é comum. Mas apenas meu nome. Não me confundam com o resto do mundo. Eu sou eu. Eu sou único.
Como ele consegue ser único se ele tem os mesmos pensamentos que eu? Deixei de ser eu? Tornei-me um Zé? Cadê a Olívia de sempre? Não, continuo sendo Olívia. Se fosse Zé estaria de pé, na frente dessa sala cheia de pessoas estranhas. De rastafaris e topetes. De esmaltes coloridos e sandálias da moda. Cheia de anéis, cheia de olhos atentos. De bocas abertas, de olhos fechados.
Recebo uma folha com um pequeno texto, no entanto é o texto que quero ler. É o texto que preciso ler agora. O texto é assim:
"Não posso revelar minhas fontes, mas elas me contaram coisas incríveis. Me disseram que a cor azul do céu é menos anil que o anil do mar. Me falaram dos pecados da humanidade. Me disseram da verdade universal. Pouco depois acrescentaram as coisas boas da vida. Falaram do amor e da amizade. Me ensinaram que os brilhos verdes no oceano são apenas pequenos seres. Mas eu me rebelei, eu criei minhas verdades. O meu anil é ainda mais anil que o do mar. Eu brilho mais que plânctons. Meus pecados nem Deus pode julgar."
A aula passa tão rápido, eu presto atenção. Tanta atenção que parece que nunca escutei outra pessoa antes. Mas não é essa a proposta de Zé? Descontruir tudo o que aprendi? Ou seria, aprendemos?

Flora S. (pena que não me chamo Zé)

1 comentários:

Unknown disse...

Medicina? Of course que not. Vejo algo refletido numa sala de aula. Inclusive o que o Howgards do template está prenunciando.