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terça-feira, 29 de julho de 2008

Ser o que é


Ele se perdeu em meio a tantos desafios. Ele pediu mais do que podia. Ele ganhou menos do que merecia. E ele ainda estava vivo, cheio de amores no coração, cheio de histórias para contar. Ele conta histórias para os mais jovens, na vã esperança de que não tenha de presenciar novamente o que aconteceu a si próprio. Mas todos cometem erros, mesmo quando avisados e não foram poucos que os repetiram.
Ele sonha ainda com o amor que conheceu na infância, que reencontrou na juventude, que perdeu quando adulto. Ele sofreu muito mais do que fala pra todos, do que se permite dizer. É, ele ainda tem os melhores amigos, alguns já morreram, mas os essenciais se mantém ao seu lado, independente do plano físico ou do espiritual. E o seu nome nunca será esquecido, Fernando. E ele se mantinha imóvel diante das crianças contando o dia em que conheceu Catarina.
Fora em um dia chuvoso que ele a viu pela primeira vez. Ela chorava debaixo da chuva, como se esperasse que cada pingo disfarçasse as lágrimas. Mas Fernando sentiu a tristeza da menina dentro de seu coração. A ligação começou lá. Ele perdeu o raciocínio mas ajudou a menina assim mesmo. Ela estava perdida porque seguira um garoto com quem queria brincar, mas ele a ignorou e mandou ela voltar pra casa (chamou-a de insuportável). Fernando levou Catarina até sua casa, depois foi embora e nem conseguiu dormir direito.
O reencontro foi muito tempo depois, ela estava em sua sala de escola. Eles conversavam sempre e a amizade foi estabelecida. Ela parecia não se lembrar dele, mas isso não importava, ela estava ao seu lado sempre. Infelizmente ela começou a namorar um outro menino, Tomás. E o amor que ela tinha por ele era enorme, tão grande que Fernando nunca teve coragem de se declarar. E quando ele o disse era tarde demais. Perdeu seu grande amor quando o fez, mas já era adulto e aprendeu a lidar com a dor.
Agora ele ensina aos mais novos a viver evitando a dor de não tentar. Porque a dor da perda é menor do que a dor do não falar, do não expressar, do não ser. Mas sabe de uma coisa? Os amigos o ajudaram tanto, mas tanto, que ele encontrou novos amores. Agora ele têm um outro grande amor, Filipa. O nome pode não ser o mais bonito, mas o amor que os dois têm entre si é tão bonito, ou mais, quanto o pôr-do-sol sobre as montanhas.
E tudo isso só foi possível após a declaração que o permitiu ser. Fernando se tornou o que era de verdade apenas por estar livre da carga. E foi então que seus amigos o acolheram e se aproximaram ainda mais, pois os amigos são aqueles com quem você pode ser você mesmo. E ele o é.

Flora S.

4 comentários:

Mau e Ana disse...

uau
precisa mais?

Filósofo da pochete azul disse...

virgem santa mãe de Jesus! muito legal a historinha...

A confusão de dor e amor numa pessoa é legal , porque, geralmente, ninguem põe a coexistência dos dois em uma mesma lógica... "ou a pessoa é feliz ou sofre no amor" por exemplo. Mas, na verdade, o que acontece é o que você escreveu

Carolina Arantes disse...

você tem um bom gosto musical...
e esse texto mexeu um pouco comigo...essa coisa secretada...
bacana ;)

Marília Syrbal disse...

Lindo. ;)

Deixa eu te contar uma coisa, nas últimas semanas eu queria escrever um texto que terminasse com essa frase " E ele o é" mas não consegui escrever nada...
Enfim, vc escreveu, e muito bem por sinal.