A ola iniciou seu curso enquanto pessoas e ares entravam pela porta. Janelas abertas, cadeiras preenchidas e olhares ansiosos. Papéis por serem feitos, textos por serem ditos. Roupas pretas espalhadas pelo chão esperando pelo fim de um discurso indeterminado, discurso inesperado, discurso impensável. Eles prestam atenção em tudo, disse o diretor. Eles prestavam atenção em seus olhos e não perdiam seus pontos fixos. Começou.
Mulheres, mulheres, mulheres. Homens esparsos entre momentos femininos e dores pungentes. Uma dor de ansiedade, uma merda por ser dita, um olhar por ser trocado. O tempo já era e o agora se fazia presente. A onde levou o mar. Chico jogou sua gota d’água e saldou o início. Era ali, era o fim da onda constante.
Fernanda despejou seu ódio. Homens, seres tão insignificantes se encolheram ao ouvir o toque. Mas logo veio García Lorca e sua Yerma com dor. A mulher sem criança sofreu a esperança de ter o filho. E Sartre manteve a quarta parede, incluiu dor e sofrimento. Mulher, espere-o com lágrimas nos olhos, o arrependimento nunca virá, o homem não se curvará. Enforque-o, entregue-o, arraste-o.
Nelson montou o retrato. Todo mundo é doido, todo mundo é tolo. Geni saiu do quadro, sangue escorreu de dentes, veneno se alastrou no largo. Olegário, morto. Seus sapatos? Ninguém sabe de nada. Mulher que deseja a morte do marido. Filho que pediu um amor de mãe, pediu o útero, Largou a barriga. Um beijo oco no asfalto que ficou na lembrança dos que nada viram. Foi aí que chegou a louca, a tresloucada, a família normal.
Suassuna esbugalhou os olhos, gritou a todos e curvou cabeças. Multidão que segura não era realmente seu sustento, intemperança. Mas o caminho foi construído e Lear teve onde se sentar para sentir sua dor pungente, seu ardor triste. Sua voz clara despertou sentido. Chico renasceu em sua cadeira, Chico retomou o banco, o assento, a privada. E a merda que ele tanto desejou passou para a usura. Para o fleet nos usuráveis, para o povo a ser esmagado. E os noveleiros? Purcina tornou-se estátua, prendeu-se no laço.
Foi aí então que o diabo ganhou asas. Inspire-se em Saramago, largue o Diabo malvado e dê-lhe passos a enrubecê-lo. Diabo, alto e magro que largou suas penas a espera do veneno de Romeu. Amor cegou Julieta. Julieta perdeu sua vida e clamou pelo punhal. Rodou, rodou, rodou. Acabou-se num beijo e permitiu-se entrar. Lorca retomou com sua trilogia e quase como Vader conseguiu trocar a ordem e apresentar então a primeira peça.
Lançadas ao ar as fagulhas da lua quebraram o gelo e deduraram os amantes. Prenderam homens e rodopiaram mulheres. Desmoronou-se o coração. E foi então que Tenesse Williams teve de entrar e se jogar ao mar, duas vezes. Duas vezes perdido no azul dos olhos de seu grande amor. Duas vezes uma prerrogativa para o insignificante do homem.
Retomou-se a ola. Fechou-se o círculo. O homem sentado ao lado inseriu-se no grupo, a mulher que centralizou a estrela finalizou sua fala. O discurso sumiu nas duas voltas de ola restante. Esperou-se o aplauso. Encontrou-se o olho do companheiro, o abraço da família, o beijo do amor. O suor desceu-lhe a face e o rubro sangue era mais que palavras, era face, era estado. Esperança do ato seguinte. Aquele ato acabou, restaram atores, amigos, amores. Palavras ditas e reditas, marcas feitas e trocadas, falas decoradas e rememoradas. Amigos. Saudades.
Flora S. (aos saudosos primeiros meses, aos saudosos primeiros companheiros)
6 comentários:
adorei *-* saudade do dia da apresentação e do primero modulo *-*
muito show,vc soube com criatividade descrever todo texto e contexto de um momento que com certeza ficara marcado para sempre, para quem viveu vai deixar saudades! Belo diario de bordô.
Gemeas
Querida flora! você foi artisticamente perfeita em suas palavras, não só pelo detalhamento da cena mas também pela sensibilidade e carisma para com a turma, mais uma vez vc brilhou... saudades...
beautiful.
simplesmente maravilhoso.
flora,
voçe sempre sera parte do *nosso grupo.
saudades,
mandika.
"saudosos primeiros meses, aos saudosos primeiros companheiros"
ai, caramba, quanta saudade eu sinto do primeiro módulo!! de tudo isso!!
quanta saudade sinto de você flora!!
texto incrível! parabéns!
beijos
Flora suas palavras expressaram de forma maravilhosa as sensações que vivemos naquela noite. Adorei!
Wal
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