BLOGGER TEMPLATES - TWITTER BACKGROUNDS »

domingo, 27 de setembro de 2009

Tempo extra


Eu sabia que ia chover mais tarde, afinal já tinha chovido um pouco. Mesmo assim fui andando calmamente, apreciando a rua movimentada de um dia de trabalho comum. Eu raramente tenho tempo de andar assim, meus olhares são restritos a outras coisas. Mas nesse dia eu queria ver algo a mais. Queria encontrar liberdades desatinadas. E encontrei.
Eu pulei as folha varridas pelo vento, não que a mulher chama-se vento, o que é pouco provável, mas assim soava mais poético. Atravessei uma poça de água suja que corria em alta velocidade. Observei o homem que ajudava um morador de rua a se deitar. Entrei na livraria, comprei meus livros. Atravessei prateleiras, descobri histórias. Histórias saíram de livros, mangás, quadrinhos, quadros, ruas e paisagens. O mundo saía das palavras amontoadas em frases desconexas.
Quando se pensa demais as coisas se embolam. A escrita se torna difícil, é muita coisa pra se juntar. Idéias que estavam na cabeça vão rápidas demais para se fixarem no papel. A tinta é muito lenta, a pena arranha demais. Em cada rabisco se perdem mil conjuntos.
E eu queria mesmo era falar das liberdades. Pois bem, as vi. Vi crianças rodopiando, dando cambalhotas e bamboleando. Vi adultos se beijando enquanto o sorvete derretido escorreria pelas mãos meladas de um deles. Vi mulheres admirando vitrines. Vi homens ouvindo música. Vi jovens discutindo o programa de ontem. Vi. Vi sim. Eu vivi.

Flora S.

2 comentários:

Caíque Pinheiro disse...

“Eu seria algum tipo de gênio literário se pudesse escrever na mesma velocidade em que meus olhos vêem. Estou bem certo de que uma meia dúzia de obras-primas me passaram pela janela e ficaram pra trás nos últimos minutos, não escritas.

Também seria um gênio literário se as inspirações que me vêm viessem em palavras ao invés de sentimentos. Já transformei muitas obras-primas em potencial, como esta, em meros amontoados de palavras, como este.

Mas tudo bem: muito da beleza da vida está nas entre-linhas.”

Marcos Rosa.

matheus matheus disse...

Bonito. Você escreve bem.