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quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Romeu e Julieta XY


-Sério, como podemos nós dois nos compararmos a uma estrela? Não conseguimos nem vê-las no lugar certo...
-Tudo culpa da refração.
-Se a ciência explica tão bem, pra que a fé? Pra que sonhar? Vamos constatar fatos...
-Então deixemos de viver... A ciência é bem mais que comprovar, afirmar, ela envolve o mundo e deixa espaço para o credo, para o pensamento.
-Não me tornei cientista para isso. Quero confirmar tudo e não criar hipóteses infundadas.
-Então o brilho do luar e a mudança de olhos se tornaram hipóteses?
-Sim sim.
-E você me disse que me amava, onde está então a parcela de você que acredita no amor?
-Aqui, olhando para você.
-Apenas olhando, sem se expressar, sem acreditar, sem ser.
-Eu sou, sou esse amontoado de poeira cósmica.
-Um amontoado de poeira com emoções, com amores e sensações. Um amontoado de carbono e hidrogênio, com um pouco de molibdênio. Realmente, você poderia ser mais que uma poeira em baixo de um tapete. Levante-se, saia de seu esconderijo e descubra se o seu amor é constatável ou hipóteses.
-Eu vivo sobre constantes...
-Então eu sou uma hipótese...

E os dois se separaram, os dois se perderam na distância. E cada um teve sua esposa, esposas compatíveis com si próprios. Eles quase se tornaram amantes. Mas um achou que tudo seria imaginação, outro queria provas reais. Nenhum dos dois conseguiu nada. E a solidão nem foi tão solitária, eram companhias intrínsecas.

Flora S. (recordando o meu dia)